A paciência é melhor do que a sabedoria;
trinta gramas de paciência valem mais que meio quilo de massa cerebral.
Todos os homens louvam a paciência, mas poucos a louvam o suficiente
para praticá-la. É um remédio bom para todas as doenças, como afirma
toda senhora de idade, mas as ervas que produzem esse remédio não
crescem em todos os jardins. Quando alguém, de carne e osso como nós,
fica cheio de dores, é muito natural que murmure, como é natural um
cavalo abanar a cabeça quando as moscas o incomodam, ou uma roda ranger
quando perde um aro. Mas a natureza não deveria ser a regra para os
cristãos ou, então, para que serve sua religião? Se um soldado não lutar
melhor que um lavrador, tire seu casaco vermelho. Esperamos mais fruta
de uma macieira que de um espinheiro e temos o direito de pensar assim.
Os discípulos de um Salvador paciente também devem ser pacientes. O
velho ditado aconselha: “Sorria e agüente”, mas cantar e carregar é
muito melhor. Afinal, temos poucas marcas de chicote, considerando a
péssima qualidade de gado que somos; e sempre achamos que nosso
sofrimento vem cedo demais. A dor passada é prazer, além de trazer
experiência. Nós não deveríamos ter medo de ir ao Egito quando sabemos
que podemos voltar de lá com jóias, prata e ouro.
Pessoas impacientes lavam suas misérias e sulcam seu bem-estar; as
tristezas são visitantes que chegam sem ser convidados, mas as mentes
queixosas causam um vagão de problemas em sua casa. Muitas pessoas
nascem chorando, vivem se queixando e morrem frustradas; elas mastigam a
pílula amarga sem sequer saber não seria tão amarga se tivessem
inteligência para engoli-la inteira, com um copo de paciência e água.
Pensam que a carga dos outros homens é leve, e a delas pesa como chumbo.
Dificilmente elas se cansam da própria opinião. Os dedos dos pés de
ninguém são pisados pelo touro negro com tanta freqüência como os delas;
a neve que cai em volta de sua porta é mais espessa, e o granizo faz um
barulho mais forte em suas janelas. Contudo, se a verdade fosse
conhecida, ficaria claro que é a fantasia delas, e não a má sorte, que
faz parecer que as coisas vão mal, a ladainha poderia ser posta de lado
se não pensassem apenas nisso. Se pomos um raminho da erva chamada
contentamento em uma sopa bem rala ela terá um sabor tão bom como a
torta do prefeito. João Lavrador cultiva a erva em seu jardim, mas o
último inverno muito rigoroso danificou-a terrivelmente, e ele não
conseguiu uma mudinha para dar aos seus vizinhos; eles deviam seguir
Mateus 25.9 e procurar os que vendem e compram. A graça é um solo bom
para o cultivo, mas precisa ser regada com a água da fonte da
misericórdia. Ser pobre nem sempre é agradável, mas coisas piores que
isso acontecem no mar. Sapatos pequenos são ótimos para apertar, mas não
se o pé for pequeno; se temos poucos recursos, é ótimo que tenhamos
desejos modestos. A pobreza não é vergonha, mas ficar descontente com
ela é. Em algumas coisas, os pobres são melhores que os ricos, se um
homem pobre tiver fome ele procura um alimento para matar a fome, já o
rico que tem demais come além do que precisa para se alimentar. A mesa
do pobre logo fica arrumada, e seu trabalho poupa-o de comprar molho. Os
melhores médicos são o dr. Dieta, o dr. Sossego e o dr. Feliz, e muitos
lavradores religiosos têm todos esses senhores para cuidar deles. A
fartura causa gulodice, mas a fome não vê imperfeição no cozinheiro. O
trabalho pesado proporciona saúde, e trinta gramas de saúde valem mais
do que um saco de diamantes. Há mais doçura em uma colher cheia de
açúcar que em um litro de vinagre. Não é a quantidade de nossos
alimentos, mas a graça de Deus no que temos que nos faz verdadeiramente
ricos. Os restos de uma maçã comum são melhores que uma maçã silvestre
inteira; um jantar de verduras em paz é melhor que um com a carne de um
boi confinado acompanhada de discussão, ter pouco com temor a Deus é
melhor do que ter um grande tesouro acompanhado de problemas. Uma
pequena quantidade de lenha aquece meu pequeno forno; por que, então,
devo me lastimar se toda a lenha não for minha?
Quando as dificuldades aparecem, não adianta insultar Deus com
pensamentos injustos sobre a providência; isso é o mesmo que dar murro
em ponta de faca e se machucar. As árvores se curvam com o vento, e nós
também devemos nos curvar. Cada vez que a ovelha bali, perde um bocado, e
cada vez que nos queixamos, perdemos uma benção. Queixar-se é um mau
negócio e não traz lucro, mas a paciência tem mãos de ouro, nossos males
logo terminarão. Depois da chuva surge um brilho claro; corvos negros
têm asas; cada inverno se transforma em primavera; cada noite rompe em
manhã.
O vento não sopra sempre tão forte
No fim, ele se aquieta.
Quando uma porta se fecha, Deus abre
outra, se as ervilhas não crescem bem; os feijões crescem, se uma
galinha abandona seus ovos, outra choca toda a ninhada. Há um lado
luminoso em todas as coisas, e um Deus bom em todos os lugares. Em um
lugar ou outro, no meio da pior onda de problemas sempre há terra firme
onde pôr nosso contentamento, e se não houver temos de aprender a nadar.
Amigo, como diziam os antigos, ponha paciência e água no mingau de aveia
antes de apanhar os miseráveis e transmitir aos outros a doença
pecaminosa de encontrar imperfeições em Deus. O melhor remédio para a
aflição é submeter-se à providência. O que não pode ser curado, deve ser
suportado. Se não pudermos ter bacon, louvemos a Deus, pois ainda temos
alguns repolhos na horta. “O dever” é uma noz dura de quebrar, mas tem
uma semente doce. “Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o
amam”.O que quer que caia do céu, mais cedo ou mais tarde, faz bem para
a terra; o que quer venha de Deus tem valor, mesmo que seja um açoite.
Por nossa natureza, não podemos gostar de dificuldades da mesma forma
que um rato não cai de amores por um gato, contudo Paulo, pela graça,
chegou à glória também em tribulações. Perdas e cruzes são pesadas de
suportar, mas é maravilhoso como o fardo fica leve quando nosso coração
está do lado direito de Deus. Temos de ir para a glória pelo caminho da
Cruz das Lamentações; e como nunca nos foi prometido que iríamos para o
céu em uma cama de plumas não podemos nos desapontar ao ver que a
estrada é difícil, como nossos pais também acharam antes de nós. Tudo
está bem quando termina bem, por isso, aremos o solo mais árido com os
olhos na colheita e aprendamos a cantar durante nosso trabalho, enquanto
os outros murmuram.
FONTE: Sheed Publicações
Comentários